terça-feira, 24 de maio de 2011

Tchau

4. Na mesa do botiquim




Rebeca saltou do ônibus, comprou um sorvete de chocolate e veio lambendo ele pela rua. Parou em frente do botequim da esquina: ué: não era o pai sentado bem lá no fundo? Espiou: era, sim: entrou.

– Oi, pai.

O pai levantou a cara do copo e olhou pra Rebeca feito custando pra lembrar quem é que ela era.

– Ôôôooooo filhinha, o que você tá fazendo aqui?

– Eu nada, e você?

– Eu nada.

O sorvete pingou na calça do pai.

O pai ficou olhando triste pro pingo; depois falou:

– Senta. – Mas logo se arrependeu: – Quer dizer, não senta não porque isso aqui não é lugar pra criança.

Mas Rebeca já tinha sentado, e o moço do botequim já tinha trazido um outro copo cheio pro pai beber. O pai bebeu, enquanto Rebeca acabava o sorvete, comia a casquinha, dava uma lambida em cada dedo, enxugava eles na saia, e suspirava de pena do sorvete ter acabado. O pai suspirou também:

– Tua mãe não gosta mais de mim.

Rebeca olhou pra mesa: cheia de copo vazio. Será que era o pai que tinha bebido aquilo tudo?

– Eu gosto tanto dela! Agora então que ela vai me deixar parece até que gosto mais.

Rebeca olhou pro pai; achou que o olho dele estava parecendo de vidro.

– Duvido que esse gringo goste dela do jeito que eu gosto. Nem metade, aposto. Nem metade da metade da me... – Foi se esquecendo da outra metade; ficou olhando pra Rebeca.

– Que que você tá olhando assim pra mim, pai? Parece até que você nunca me viu.

– Como você é parecida com ela! Tudo. A boca, o cabelo, o jeito de olhar. E agora que eu to percebendo: o teu nariz também é igualzinho ao dela, até um pouco de sarda na ponta ele tem, engraçado, eu ainda não tinha reparado. – Debruçou mais na mesa pra olhar pro nariz da Rebeca, derrubou um copo no caminho; desanimou.

Rebeca debruçou também:

– Eu vou pedir pra mãe não ir. Eu vou pedir tão forte que ela não vai, você vai ver.

O pai fechou o olho:

– Eu queria que o tempo já tivesse passado e que eu já tivesse me esquecido dela.

– Eu vou pedir pra ela não ir embora; deixa comigo, pai.

– Eu queria que você e o Donatelo já fossem grandes, o que que eu vou fazer com vocês dois? Me diz, me diz! Eu não tenho jeito com criança.

– Eu vou pedir.

– O que eu faço com vocês dois Rebeca?

– Deixa comigo pai, eu te prometo que eu não deixo a mãe dizer tchau pra gente.

– Promete?

– Prometo. E agora pára de beber, tá?

– Tá.

 
 
 
 
Fiquem ligados, nas proximas postagens... proximas aventuras...

Augusto Pessôa - Contador profissional




Neste vídeo percebemos sua performance como contador de história, ele nos dá a impressão de testemunha da história, é como se ele estivesse lá vendo tudo o que estava acontecendo, ele nos passa a emoção da história e nos cativa com os olhos, nos instiga a querer e buscar mais, portanto aí vai outro vídeo.






Blog do Augusto Pessôa: augustopessoacontadordehistorias.blogspot.com

A arte de contar histórias

O fato de contar histórias se confunde com a evolução da humanidade. Todo conhecimento era passado através de narrativas que era a melhor forma de encadear fatos, os mitos ajudavam na explicação de vários fatos, por exemplo, sobre pai e filho, amor, entre outros. Explicava-se os fatos do mundo através de histórias.
Hoje em dia o que mais importa é o que está escrito, as culturas orais são desvalorizadas, nos dias atuais a oralidade é sustentada pela escrita, isso me remete a Platão que com a chegada da escrita se opôs a ela pois em sua opinião diminuiria a nossa memória no sentido de decorar, mas podemos ver que não foi bem isso que aconteceu, o surgimento da escrita ampliou ainda mais nossa capacidade de ter mais informações.
Falaremos de dois tipos de contador, o contador tradicional e o contador contemporâneo, o tradicional são nossos avós, pessoas mais velhas, este tipo de contador tem lugar garantido para contar suas histórias, que na maioria das vezes vem da tradição oral, está na memória, o contador tradicional tem a sua própria performance ao contar suas histórias.
O contador contemporâneo são professores, “pais e mães”, contadores profissionais, pais e mães estão entre aspas porque geralmente eles tem lugar garantido na família, os professores e os contadores profissionais não tem lugar garantido, eles precisam seduzir, prender a atenção de quem os ouve, capta a atenção de todos pelo olhar, estes profissionais lidam com a conquista, e sua performance ao contar histórias é de testemunha de tudo o que aconteceu e passar a emoção contida na história.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tchau

3. No sofá da sala




A mãe bateu a porta do quarto e correu pra sala.

Já era tarde da noite, mas Rebeca estava acordada. Ouviu a mãe soluçando. Levantou; olhou pro Donatelo na cama ao lado: dormindo. Correu pra sala. A mãe estava jogada no sofá.

– Que foi?!

A mãe tapou o choro com a almofada; o corpo ficou sacudindo.

– Mãe, que foi, que foi!

Estava escuro na sala. Mas o pai abriu a porta do quarto e veio a luz de lá de dentro. Rebeca escorregou pro chão e ficou meio escondida atrás do sofá. O pai chegou perto e falou com uma voz de raiva, de mágoa, uma voz que a Rebeca nunca tinha ouvido ele falar:

–Você tá chorando por quê? Quem tem que chorar seu eu não você. Não sou eu que tô abandonando a minha família, é você; não sou eu que tô deixando os meus filhos pra lá: é você!

A mãe tirou a almofada da cara; a voz saiu metade soluço, metade fala:

–Você não tá querendo entender: eu não tô deixando a Rebeca e o Donatelo: um dia eu volto pra buscar os dois.

– Você vai embora com esse estrangeiro pra viver lá do outro lado do mundo...

– Eu juro que eu volto!

– ... Mas o estrangeiro não quer as crianças, só quer você.

– Eu sei que eu acabo convencendo ele...

– E se um dia você convence ele aí vem buscar a Rebeca e o Donatelo, não é? Lindo!

– O que eu posso fazer? Ele não quer que eu leve as crianças agora.

– ELE NÃO QUER!! Então ele agora manda em você. Ele é um deus que desceu do Olimpo pra dizer o que ele quer e o que que ele não quer que você faça.

Rebeca franziu a testa, ele é um deus que desceu de onde? E aí o pai gritou:

– Pois eu também não quero, viu? Eu não quero o que você quer. E você vai ter que escolher: ou fica ou leva as crianças com você agora.

– Mas eu não...

– Se você não leva elas agora eu não deixo você levar nunca mais. Abandono do lar, da família, de tudo: a lei vai estar do meu lado. Então você escolhe: ou ele ou as crianças.


Não percam... Continua nas proximas postagens!!

Os contos de fadas

Um blog como este não poderia de forma alguma deixar de falar de assunto tão interessante na literatura infantil como os contos de fada. Então... Está aí, divirta-se!!


Os contos de fadas há uma separação entre o bem e o mal, isto faz bem para a criança ver o mundo mais organizado, há criticas por não estar tal qual na vida real, mas com esta separação os contos organizam o mundo das crianças por isso deve ser introduzida na educação infantil. Geralmente os pais querem que reforcem o bem e critiquem o mal, isso não deve ser feito, pois não deve haver comparação com o mundo real

Os contos ocorrem num espaço-tempo da imaginação não é possível transpor para a realidade, há coisas do mundo da imaginação que não cabem no mundo real. O final feliz não ocorre em todos os contos de fadas, mas acontece na maioria deles, para as crianças menores é ideal que se conte contos com o final feliz, para que organizem a questão do bem e do mal.

O que são as fadas? Os exorcistas, os demonólogos, os sábios em magia classificam-nas entre os espíritos elementares, de origem pagã, imortais sem serem divinas, leves demais para a terra – terrestres demais para o céu.

São exemplares, maliciosas sem serem más, pérfidas, mas não perversas, caprichosas, egoístas. Gostam de amar e ser amadas. A fada é uma forma de representação, segundo a própria etimologia da palavra, do destino do homem, e brota da “concepção mais doce e mais trágica, mais intima e mais universal da vida humana”.

As fadas são as aparências de realidade como toda interpretação emotiva da natureza que provenha de um temperamento no qual predominam os sentidos, quer dizer, o sensorial e o juízo estético. Tem uma psicologia facilmente captável: são boas ou más, caprichosas, sujeitas ao puro azar.

São tradicionalistas: sabem que o bem ou o mal proporcionam prazer ou dor aos seres humanos e que estes, tenham ou não tenham luzes, são definidos pelo instinto de conservação da vida. As fadas são encarnações posteriores das lendas e nasceram da voz viva e falada dos povos. Sua origem remota, tanto como a dos contos que narram suas façanhas, está na idade oral do mito, quando ainda não tinham inventado os caracteres da imprensa.

O conto de fadas é um gênero que tem ubiquação anterior e superior dentro da literatura poética. E é mais real. Suas histórias derivam, antes de ser escritas, dos tempos enevoados de onde vieram trazidas pela tradição oral. O ponto crucial é que os contos de fadas se tornaram literatura infantil, existindo quando não existia a noção de infância e de criança tal como entendemos hoje.

A presença do maravilhoso nos contos de fadas dá um caráter imaginativo, este mais do que não realismo que predomina geralmente nesses contos. Outro elemento da estrutura é o meio em que se desenrola a ação dos contos. Um lugar nunca detalhado com precisão, mas referido em poucas palavras, deixando entrever esse país de maravilhas bem fora do tempo e do espaço.

Dizem que os contos de fadas levariam as crianças à credulidade, a falsear o espírito, retomar ao mundo da lenda, mundo superado. Ou que o fatalismo deles não permitirá à criança preparar-se para o mundo real que logo irá enfrentar. Nos contos de fada o mal é tão onipresente quanto a virtude, assim como na vida. Também no homem há as propensões para o bem e o mal. E esta dualidade coloca o problema moral e requisita a luta para resolvê-lo.

Os contos de fadas asseguraram que uma vida compensadora e boa está ao alcance da pessoa, apesar das lutas e das adversidades. Mas apenas se ela não se atemorizar diante dos obstáculos, pois só vencendo-os descobrimos nossa identidade. O conto de fadas é terapêutico, porque o paciente encontra sua própria solução através do que a história coloca sobre conflitos internos.

Devemos lembrar ainda que o final feliz dos contos de fadas é importante para a infância, quando tudo está em transformação. Enquanto não conseguirmos considerável segurança dentro de nós mesmos.

Contar histórias é atividade muito antiga. Até os profetas já falavam dela. Assim, o mais importante que o homem acumulou de sua experiência foi sendo comunicado de individuo a individuo, de povo a povo, usando a palavra como um instrumento mágico.